Análise de obras

Hans Arp

Colagem Disposta Segundo as Leis do Acaso

c.1917, colagem, 48,6 x 34,6 cm

Nova Iorque, The Museum of Modern Art, Aquisição. 457.1937

 

 Em 1907, Hans Arp forma-se academicamente como artísta para 10 anos mais tarde criar esta obra. Por ser uma colagem, se observa a estrutura aleatória frequentemente  usada por Hans, o que caracteriza o design artístico Dadaísta. Ao analisarmos o título concedido à obra, podemos visualizar a forma dadaísta de espressão. "Colagem Disposta Segundo as Leis do Acaso", no título, em "segundo as leis" dá a entender que é segundo regras, normas e com ordem, que tal obra foi produzida. A continuação diz: "... do acaso" , mudando completamente o sentido das palavras anteriores, um paradoxo, pois o acaso é algo sem controle, algo sem regras. Quando analisamos a obra em si, percebemos que na disposição das formas quadriculadas se encontra um certo tipo de organização, por exemplo, os quadrados não se  encontram um em cima do outro, o que evidencia um equilíbrio entre a ordem da composição e o princípio do acaso. Vemos o Dadaísmo presente no "sem-sentido" que a obra possui.

 

Raoul Hausmann

Cabeça Mecânica ( O Espírito da Nossa Era)

c.1920, montagem, 32,5 x 21 x 20 cm

Paris, Musée National d'Art Moderne, Centre Pompidou

 

 Ao se observar esta montagem de Hausmann, se descobre que ele fez uso de materiais gastos, já utilizados com o intuito, talvez, de demonstrar o "descartável" e a futilidade que o ser humano tem se tornado. A cabeça está alienada em cima de uma caixa de madeira, o que demonstra ser uma obra revolucionária (logo após a Primeira Guerra Mundial), " mentes revolucionárias". Apresentando diferentes objetos espalhados pela cabeça observa-se: um copo telescópico do tipo dos distribuidos aos soldados alemães na frente, uma plaquinha com o número 22 na testa e localizado na têmpora direita, encontra-se o mecanismo de um relógio. Como orelha, Hausmann posicionou um rolo de impressão, no outro lado, uma régua de madeira e vários tipos de parafusos que pertenciam a uma máquina fotográfica. Localizada atrás da cabeça, uma velha e gasta bolsa de couro, mas as coisas que mais chamam a atenção é a utilização de uma fita métrica que foi cortada no décimo centímetro, o que dá o entendimento de medição do cérebro do individuo alienado pela sociedade e o copo no centro em cima da cabeça, como se fosse uma forma de colocar todas as informações alienadoras para dentro.

   Em abril de 1966, Raul Hausmann fornece um comentário sobre esta obra: "Eu criei a minha escultura, a "Cabeça Mecânica", em 1919, e dei-lhe o título alternativo "O Espírito da Nossa Era", para mostrar que a consciência humana é constituída apenas por acessórios insignificantes presos a ela no lado de fora. É na realidade apenas uma cabeça de um boneco de cabeleireiro com um atraente penteado.". Nessa descrição, presente no livro de Dietmar Elger.Dadaísmo, vemos o que tem por trás da montagem, mas então, Hausmann desmente tudo o que tinha dito de profundo dizendo que é apenas uma cabeça com um penteado atraente, sendo que nem peruca tem na obra para ele comentar uma coisa dessas, então encontramos o Dadaímo, onde o pensamento emocional é substituido pelo mecânico, ou seja, segundo os dadaístas, poderia surgir uma nova arte em forma de máquina, que mostre o que está por trás da sociedade, que defenderia por fim um mundo pacífico, mecânico e racional, criando uma arte radical com expressão através do uso de fragmentos do mundo real.

 

 

Kurt Schwitters

O Porco Espirra para o Coração

1919, lápis e aquarela sobre papel, 25,9 x 20,5 cm

Hanôver, Spregel Museum,

Kurt und Ernst Schwitters - Stiftung

 

 Kurt, inicialmente começou a produzir trabalhos com elementos expressionistas e futuristas, mas em 1919, produziu um pequeno grupo de desenhos chamados Dadaístas pintados a aguarela. Um destes trabalhos se denominou "O Porco Espirra para o Coração", cujo título demonstra os absurdos jogos de palavras praticados pelos dadaístas. No desenho feito a lápis e aquarela, Kurt combina vários motivos que não tem conexão lógica: um funil, um porco, um velho com uma bengala, um cume, um perfil masculino, uma garrafa com um coração estilizado. Não há uma associação óbvia entre os desenhos, cujas proporções são aparentemente arbitrárias, com uma colocação inesperada, mas esta técnica artística retrata justamente esse equilíbrio com sentido e o absurdo.

A obra é Dadaísta por apresentar uma quebra do "tradicionalismo artístico" conhecido até então, de representações com linhas bem delineadas e paisagens repetitivas, o autor da obra foge do que era politicamente correto e vai para a área da demonstração dos sentimentos, que muitas vezes loucos, "sem noção", acabam enbebedando o homem sem lógica.

 

 

Johannes Theodor Baargeld

Vénus no Jogo dos Reis

1920, colagem, 37 x 27,5 cm

Zurique, Kunsthaus Zürich

 

 Nesta obra, Johannes utilizou de vários recortes para então formular novos corpos, totalmente peculiares, com características, que em sua opinião , seriam relevantes e provocantes. Baargeld recortou uma fotografia de um oficial muito condencorado, colocou a cabeça sem o tronco em cima de um retângulo possisionado no meio da folha, e continuou inventando um outro corpo desuniforme para a cabeça cheio de frutos espalhados, com o resto do peitoral, Johannes fez uma cabeça alongada sem nada que uma face teria, mas sim frutos posicionados. Do retângulo para fora foi colado uma cabeça feminina e dentro, um corpo de uma mulher esbelta, com frutos colocados por todo o espaço para significar órgãos genitais femininos. Ao fazer essa colagem, o artista teve a intenção de transmitir a ideia do homem não ter nada na cabeça, além de imagens distorcidas de um corpo feminino nu, e também a  utilização de um soldado,  e o título "... Jogo dos Reis" fez alusão a arte Dadaísta por apresentar a violência ( 1ª Guerra Mundial) e a sexualidade, que se tornariam um símbolo de uma sociedade que perdera todas as inibições, uma sociedade que procurava reprimir os primeiros sinais de aviso do estado em que se encontrava o mundo. Mudança de pensamento que hà muito tempo reprimido.

 

 

Marcel Duchamp

Chafariz

1917, urinol de porcelana, 33 x 42 x 52 cm

Estocolmo, Moderna Museet

 

 Marcel Duchamp foi o artista mais influente do século 20, através do ready-made, conseguindo demolir a supremacia da pintura sobre a escultura. Chafariz trata-se de um objeto industrialmente produzido, um urinol, que atinge a classe de arte simplesmente pelo processo de seleção e apresentação ( colocado por sob uma base e com a assinatura de Marcel e a data). Mas ao ser apresentado em uma exposição de arte contemporânea, foi rejeitado, o que de fato confirma o caráter estético Dadaísta, explosivo para a sociedade naquele tempo, em que seu principal conceito é a insanidade. A rúptura com as artes tradicionalistas comuns na época e com o cartesianismo levaram a uma anarquia da arte como conhecida anteriormente, a uma escandalização "avalística" da arte com o modo de apresentação novo que Marcel Duchamp veio trazer.

O artísta demonstra reconhecer que o objeto é definido acima de tudo pelo seu contexto e é percebido de forma diferente em ambientes diferentes.

 

 

Man Ray

Cabide

c. 1920/1921, fotografia de uma colagem escultural, 25 x 16,5 cm

Zurique, Kunsthaus Zürich

 

 Uma das primeiras obras de Man Ray, "Cabide", considerada não vulgar para Ray, talvez precisamente por essa razão uma de suas obras típicas de sentido Dadaísta. Apresenta um modelo feminino nu escondido atrás de um diferente tipo de cabide, que consiste numa base aberta e uma haste vertical de metal, na qual está fixado os contornos de uma cabeça, ombros e braços femininos recortados de cartão. Desenhados na cabeça estão: o cabelo, uma boca aberta e olhos esbugalhados, com um sinal de espanto. O fundo foi ,preferivelmente, todo preto para não haver distrações, e manter o foco na modelo.

Essa unidade do corpo de uma mulher verdadeira com partes de um boneco, a união do ser humano com algo improprio dele, o torna como uma máquina usada para o bem de outros espectadores, livres para a usurparem.

Contra a existência da lógica e dos princípios, o Dadaísmo se apresenta nessa obra. O que antes era bonito, mulheres nuas, languidas, com rostos fotogênicos e sensuais, muda para uma sensualidade mais explicita, sem mostrar rostos, somente a "falsa" emoção da mulher atrás do cabide com uma face espantosa. A mistura de real com armação.

 

" Eu fotografo as coisas que não desejo pintar, as coisas que já têm uma existência." 

                                                                                                                                 Man Ray

 

 

 

Francis Picabia

Movimento Dada

1919, caneta e tinta-da-china sobre papel, 91 x 73 cm

Nova Iorque, The Museum of Modern Art,

Aquisição. 285.1937

 

 Nesse desenho de Francis Picabia, encontra-se de forma esquemática a fonte de energia da arte Dadaísta, que Francis publicou para uma revista '391'. O desenho se percebe duas pilhas fornecendo energia a uma máquina com um temporizador, associadas aos nomes: Cézanne, Matisse, Braque, Picasso e o próprio Picabia.  Ao lado se observa os nomes dispostos como num mostrador de relógio dos dadaístas H. Arp, Stieglitz, Tr. Tzara e M. Duchamp. Embaixo encontra-se um sino, o que na visão Picabia, como expressa a ideia do Movimento Dada, representa nesse desenho, um sino de alerta para as pessoas acordarem para o Dadaísmo.

Por ser um desenho que para entender melhor se deve conhecer mais  sobre o Dadaímo, para muitos seria loucura, sem sentido e insano, para os dadaístas é obra prima. Assim como a frase de Picabia, que mostra com essência o Dadaísmo.

" Dada é como nossas esperanças: nada

como nosso paraíso: nada

como nossos ídolos: nada

como nossos heróis: nada

como nossos artistas: nada

como nossas religiões: nada"

                       Francis Picabia, Dadaísmo.Dietmar Elger

 

Man Ray

Presente

1921, ferro de engomar, pregos, 15,3 x 11,4 cm

Nova Iorque, The Museum of Modern Art,

Fundo James Thrall Soby, 1966

 

 Esta obra permanece no topo de desenvolvimento artístico do Dadaísmo de Nova Iorque, no entanto tem frequentemente sido descrita como  um objeto de espírito Surrealista de Lautréamont. Como explicação destaca-se a não confrontação de dois objetos mutuamente estranhos, e sim a descaracterização da identidade de cada um para combiná-los, criando um totalmente novo objeto, uma mutação de um comum ferro de passar roupa.

Justamente porque o objeto perde o seu sentido, a função pra que foi produzido, surge uma discussão  entre a funcionalidade, o propósito do objeto com o fracasso de sua função ser alterada. Então vemos a ironia do poder gerado pelo Dadaísta, de conseguir transformar uma coisa corriqueira, comum, tradicional para a sociedade em algo que chame a atenção das pessoas e as alerte, e tudo isso de forma sem-sentido, inesperada e insensata, mas que por sua vez funcionou ao relacionar e fazer uma grande analogia entre os "presentes"(ferro de engomar) - pão e circo - que o povo recebe dos políticos, que no fim das contas só serviu para nos deixar mais arrebentados ( ao passar a roupa, os pregos furam e rangam os tecidos).

 

 

 

Francis Picabia

Cuidado: Pintura                                                                                 

1919, óleo, esmalte e tinta brilhante sobre a tela, 91 x 73 cm

Estocolmo, Moderna Museet

 

 "As nossas cabeças são redondas para que os nossos pensamentos possam mudar de direção"                                                                 

                                                                                                                                Francis Picabia - Dadaísmo.Dietmar Elger

 

Na obra "Cuidado: Pintura" é claramente um comentário irônico em forma de desenho à pintura tradicional artística do século XX, a qual era estabelcida e programada como única correta. Francis admirava construir uma alternativa de processo criativo, onde a arte ganha vida com a força e o empenho de seu criador.

Repleto de ironia, essa obra de arte reflete a ideia de que ao se construir uma arte, se leva muito trabalho, e que muitas vezes a arte, que era para ser algo que flui de dentro para fora, acaba por ser algo desgastante ao criador e por não causar a reação no público de sentimento, reflexão e abertura de olhos as novas possibilidades e mundos diversos.

É como ler um livro, você se coloca no lugar de quem está contando a história e passa a imaginar todo o que está escrito no livro, só que no caso de visualizar a arte, você imagina somente o porquê?.

O Dadaísmo está presente nessa irônia e no sem- sentido da obra, mas que na verdade nos faz refletir sobre o porquê e o quê tem por trás daquela construção.